O bairro do Imirim está completando 189 anos de fundação e mantendo-se como rara resistência ao progresso, com seu aspecto bucolicamente simples dentro de uma cidade que não para de crescer. Assim vem se preservando com ares semelhantes a uma típica cidade interiorana, tendo em sua entrada principal o cemitério Municipal do Chora Menino e uma ampla avenida Imirim avançando ao coração do bairro, com intenso comércio voltado aos moradores e com sua igreja Matriz N. Sra. de Fatima, encravada de forma imponente na parte mais alta do bairro. A região no período imperial pertencia a uma fazendeira.
Sem herdeiros, após seu falecimento a área foi loteada pela Coroa portuguesa e dividida em vários sítios com pequenos agricultores portugueses e italianos a partir de 1833, e preservando algumas malocas de índios Tupys à beira do Córrego do Rio Pequeno, hoje Av. Eng. Caetano Álvares que tornou-se no tempo o divisor de um progresso que chegou pela parte planalto do bairro, até a Vila Cardamone onde lá foram construídas 180 casas em 1951; com o outro lado da margem formado por chácaras sendo a principal de propriedade da família Rocchi, que posteriormente logo tratou de lotear a grande gleba de terras criando a Vila Roque. A Avenida Imirim até a década de 1960 não possuia asfalto nem tampouco transporte urbano. Era uma larga via pública de cascalhos e pedregulhos. Suas casas ao longo da estrada possuíam fachadas arquitetônicas de inspirações tipicamente lusitanas. Em seguida, com o asfalto e paralelepípedos pavimentados, chegou a famosa e inesquecivel linha CMTC Imirim – Itaim 106A que levava os moradores até a zona Sul, passando pelo então distrito de Santana, seguindo pela Ponte Pequena, Centro e Av. 9 de Julho. Outras linhas foram criadas posteriormente, através da Viação Brasília, seguida das Viacões Estrela D’alva e N.Sra. de Fátima, ambas de propriedade do Rui Codo, um antigo vereador da região, num
tempo de militarismo.
E foram surgindo no bairro escolas construídas inicialmente em barracões de madeira como foi o caso da Municipal de 1°Grau Marcílio Dias e a estadual Leme do Prado, depois edificadas em alvenaria.
Os loteamentos foram avançando com os novos moradores de origem predominantemente portuguesa, armênia, italiana e japonesa, construindo suas casas, em ruas recém criadas e identificadas por letras, entre árvores frutíferas como pés de caquís, mangas, goiabas, pêssegos e jaboticabas.
Os armênios se estabeleceram no início do bairro, os japoneses passaram a explorar os serviços de armazéns Secos & Molhados, foto, ótica, relojoaria e barracas de feira livres; Já os portugueses e italianos optaram por depósitos de construção, tijolaria, mercearias e padarias, como foi o caso da Panificadora
Lucas e a Pães & Doces 5 irmãos localizada no ponto inicial do Imirim CMTC.
Várias farmácias tradicionais foram surgindo, citando por exemplo a Drogaria Imirim do saudoso Seu José, a Droga Delta do Seu Falino da família Caccia e a Droga Paulo do Yasuo, no Largo do Imirim, alem de outras que marcaram seu tempo pelo lado mais desenvolvido na entrada do bairro. Vale lembrar que os farmacêuticos atendiam como confiáveis suportes de orientação de medicações e possuíam a confiança dos fregueses semelhante aos médicos, aliás, neste caso havia um único posto de saúde no bairro, mantido pelo Sesi – Serviço Social da Indústria instalado aos fundos da Igreja de Fátima, voltado prioritariamente às crianças. E ainda existiam poucos médicos de atendimento particular como é o caso do pioneiro médico de família, o clínico geral Dr. Duarte, e pelo que soube, ainda na ativa e desenvolvendo atividade social gratuita à famílias carentes. O loteamento da Vila Roque neste período, teve no seu entorno o recebimento migratório de numerosas famílias recém oriundos da Ilha da
Ilha da Madeira em Portugal, colaborando com o desenvolvimento do lado baixada do Imirim, e assim junto a outros imigrantes, deixaram marcados seus sobrenomes como Roque, Pitta, kalupgian,
Gouveia, Lucas, Oliveira, Nogueira, Azevedo, Kanashiro, Yogui, Nóbrega, Martins, entre tantos outros nomes dedicados a construção regional do vilarejo e que se juntaram a brasileiros migrantes de vários estados, além de afrodescendentes que vieram de diversas fazendas do interior Paulista e Minas Gerais.
No loteamento tambem houve a evidente preocupação religiosa como um dos pilares de apoio ao exercício da fé no agregamento familiar, e assim, surgiram Igrejas como a Paróquia de São Roque sob o comando inicial dos padres Bernardo e Kirano, a Igreja Presbiteriana da Assuero Roque, a Congregação Cristã do Brasil na Av. Imirim e a Seicho no Ie – Brasil entre tantas outras que vieram depois.
A parte social também teve seu olhar comunitário com o lendário clube Corinthinha do Imirim, fundado em 1950 que formou uma geração de grandes talentos como Zinho, China, Dorval, Zague, Biró, Sabará, entre tantos craques que os levaram ao bicampeonato de várzea. Na Vila Roque o destaque esportivo surgiu em 1945, com o SAI – Sociedade Amigos do Imirim, idealizado pelo Sr Guido Rocchi, fundador da Vila Roque.
O SAI, hoje chamado de SACI era o grande espaço da sociabilidade esportiva e cultural dos anos 60/70, onde exibiam aos domingos uma sessão de filmes e desenhos em rolos de Câmera Super 8, numa época ainda sem televisão nos lares. Jogos de bocha, ping pong, Truco, eventuais exibições de luta livre, entre outras, compunham as atividades por ali.
Mas o sucesso do clube ficou marcado por grandes times que por lá foram formados, capitaneados pelo técnico Zelão já no início dos anos 70 e craques como Fernando, Pimenta, Zé Carlos, Xerife, Sabará, Wagner, Babi, seguidos anos depois por Irineu e Minoro, Pasquim, só para elencar alguns craques, pois
inúmeros foram os talentos por ali revelados. O pós jogo, a resenha e a lembrança da boa jogada eram regadas por muitas ampôlas de cerveja no histórico Bar do Fevereiro e na Mercearia do Baratinha, tradicionais ponto de encontro de muita gente bamba daquela época. Vale também registrar a existência de outros times como o Hollywood, o Poder Negro e o Flamengo do Imirim que ficaram na memória dos torcedores com partidas inesquecíveis no CEI – Centro Esportivo Imirim. O auge da diversão da juventude ainda neste tempo foram marcados pelos nostálgicos salões de bailes Dancin Days e Tio Sam, além badalação inesquecível do alto da Av.Imirim em frente aos “Irmãos Coragem”, uma popular casa de sucos que tornou-se grande sucesso em São Paulo, por conta do bom humor, mágica e malabarismo de seus proprietários atrás do balcão, e o clássico Bar noturno chamado “Pilekinho” especializado em batidas.
Na educação, o sonho de formação escolar das famílias de classe média era colocar os filhos para estudarem no particular Colégio Consolata e por lá finalizar seus estudos com um curso de datilografia.
Na Vila Roque, a maioria da garotada era feliz na Escola Municipal de 1°Grau Marcílio Dias, que apesar de pública tinha um ensino de alto nível. O curso de datilografia era uma pré-condição para arrumar um bom emprego e a turma da Vila Roque pela proximidade, treinava os teclados no cursinho da Vanda, ali mesmo no Largo do ponto Imirim.
Das personalidades deste período, que residiam no bairro e por lá fizeram a diferença para a comunidade, podemos citar a Dona Romilde, saudosa diretora da Escola Marcílio Dias até hoje
lembrada por quem lá estudou, o famoso massagista Mário Américo, um dos grandes ícones da seleção brasileira, e o Sr. Guido Rocchi pela ativa participação na fundação da Vila Roque.
Se perguntarmos a qualquer antigo morador do bairro, quais os eventos tradicionais da região e que marcaram suas vidas, certamente haverão de se lembrar das imperdíveis quermesses da São Roque, Colégio Meirelles, Consolata e Fátima, bem como, o tradicional Desfile Cívico de 7 de Setembro organizado na parte alta do bairro, em frente ao Colégio Consolata e Igreja de Fátima, com as impecáveis apresentações de fanfarras e bandas marciais dos colégios da região.
Enfim, há muitas histórias e causos para contar de um bairro que sobrevive ao tempo, sem perder sua essência, seus costumes, seus valores familiares, suas conversas com o vizinho ao portão e boa prosa de umbigo no balcão, num butequim qualquer e no estilo “pé pra fora”, brindando a simplicidade da vida.
Claro que muita coisa mudou, mas sempre encontrará em cada residência do bairro o imenso orgulho de ser um Imirinense.
Vida longa ao Bairro Imirim – 189 anos.
Nota: Esta narrativa do autor Walmir Oliveira Mello está baseada em memórias de sua vivência no bairro desde a infância.
Mudou-se há 26 anos, mas suas raízes familiares ainda permanecem no local. Você pode ter saído do Imirim…mas o Imirim nunca sairá de dentro de você.